POR QUE FALAR DE DOENÇA MENTAL NAS ORGANIZAÇÕES?

Dados e Informações

Segundo relatório divulgado pela Organização Mundial de Saúde (2017) que analisou como anda a saúde mental no mundo, o número de pessoas com depressão aumentou 18,4%. No Brasil 5,8% da população sofre com esse transtorno, sendo essa a maior taxa da América Latina.

O Brasil também aparece com destaque mundial com relação à ansiedade, 9,3% da população manifesta o quadro. Esse tipo de transtorno inclui, ataques de pânico, transtorno obsessivo compulsivo (TOC), fobias e estresse pós-traumático.

Ainda segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) Por volta de 90% dos casos de suicídio são cometidos por pessoas que são acometidas por alguma doença mental. Outro estudo monstra que mais de 45% dos deprimidos não são diagnosticados, o que consequentemente aponta para uma falta de tratamento adequado.

A Pesquisa Nacional de Saúde, realizada pelo IBGE (2013), mostra que, no Brasil, o número de afetados pela depressão ultrapassa os 11 milhões (mais ou menos a população inteira da cidade de São Paulo).

Olhando apenas para esses percentuais, já justifica em olhar cuidadoso para procurar entender como isso pode estar se refletindo dentro das empresas.

Doença mental e tabu

As doenças mentais ainda são cercadas por estigmas dando margem ao preconceito e a pouca compreensão. Muitas vezes os transtornos mentais são enxergados como frescura, preguiça e falta de força de vontade ou até como forma de chamar a atenção para si, fazendo com que os portadores prefiram não falar sobre o assunto e procurem esconder seu sofrimento. É mais aceito dizer ao líder que precisa faltar ao trabalho por estar com febre do que assumir que está com uma crise de ansiedade.

O mundo do doente mental ainda é muito solitário, nas redes sociais todos mostram a sua melhor versão, difícil usar esse canal para compartilhar experiências dolorosas. O estigma que ainda impera nesse século, enxerga a doença mental, como um rótulo para uma condição de exclusão e de anormalidade.

Muitas vezes a origem do preconceito encontra-se na falta de informação, que pode gerar uma imagem de agressividade e impulsividade, que tem como consequência o receio e afastamento. Tudo que não se encaixa perfeitamente nos padrões definidos e aceitos pela sociedade acaba sofrendo preconceitos. O ritmo de vida atual não favorece a inclusão e acomodação dessas pessoas de forma adequada.

O transtorno mental relacionado ao trabalho – Burnout

A palavra Burnout no dicionário da língua inglesa quer dizer incêndio que termina por não ter mais o que queimar, trazendo para seu significado como síndrome podemos dizer que é o esgotamento da força mental, emocional, física e motivacional, consequência do estresse prolongado no ambiente de trabalho. É a exaustão relacionada ao ambiente de trabalho, mostrando quadros intensos de estresse que geram consequências negativas para o profissional e, para a empresa como um todo.

Segundo pesquisas realizadas pela Isma-BR (International Stress Management Association), esse transtorno atinge 30% dos profissionais brasileiros.

Abaixo alguns dos sintomas:

  • Dificuldade para dormir;
  • Dores musculares e de cabeça;
  • Irritabilidade;
  • Alterações de humor;
  • Falhas de memória;
  • Dificuldade de concentração;
  • Falta de apetite;
  • Agressividade;
  • Isolamento;
  • Irritabilidade;
  • Depressão;
  • Pessimismo e baixa autoestima;
  • Sentimento de apatia e desesperança;
  • Maior suscetibilidade às doenças consequência da baixa imunidade.

O papel da empresa na redução do estigma

A saúde integral precisa ser considerada no planejamento estratégico para que a empresa tenha um papel importante na gestão da saúde, buscando alternativas de prevenção e garantia de bem-estar no ambiente de trabalho. Neste mesmo contexto se encaixa a saúde mental dos colaboradores.

As empresas precisam assumir sua parte de responsabilidade tanto na superação do preconceito como na criação de um ambiente de trabalho favorável a saúde mental e com abertura para a expressão e aceitação e encaminhamento adequado da doença.

Abrir espaço para o conhecimento, ou seja, levar uma mentalidade nova a todos, partindo dos líderes, que devem ter abertura e a capacidade para identificar indícios de transtornos mentais e de preconceito dentro de sua equipe.  O líder é o grande orquestrador dentro da empresa e precisa mostrar que essas pessoas podem produzir, viver em sociedade e contribuir para os resultados, desde que tenham o cuidado médico e psicológico adequados.

Minimizar as condições de trabalho que favorecem a incidência de transtornos mentais é o que as empresas precisam fazer. Abaixo alguns fatores que podem ser favoráveis ao surgimento de doenças mentais:

  • pouca fluidez na comunicação;
  • metas e objetivos inalcançáveis;
  • excesso de horas de trabalho;
  • falta de feedback adequadamente estruturado;
  • funções e atividades indefinidas;
  • competição negativa;
  • nível de pressão elevado;
  • assédio moral e ambiente injusto.

Ações que a empresa pode implementar

  • Para combater o estigma as empresas podem implementar encontros onde os funcionários possam conversar com profissionais (psicólogos e psiquiatras) que tragam informações atualizadas sobre as doenças mentais.
  • Incentivar os funcionários que já passaram por algum episódio de depressão, transtorno de ansiedade ou outra doença mental para falar sobre o tema para outros funcionários;
  • Programas de treinamento para ampliar a conscientização e preparar as lideranças para identificação, acolhimento e encaminhamento de funcionários portadores desses distúrbios;
  • Incluir no planejamento estratégico programa para monitoramento e acompanhar a incidência de doenças mentais;
  • Monitorar e trabalhar a cultura organizacional para que ela seja flexível e inclusiva propiciando a saúde física e mental dos funcionários.

Perguntas para checar o risco psicológico da sua empresa

  1. É possível falar abertamente sobre sentimentos e necessidades?
  2. Demonstrar vulnerabilidade é algo aceito?
  3. O diferente é aceito dentro da empresa?
  4. O ambiente de trabalho é inclusivo e seguro?
  5. Cada funcionário tem autonomia para realizar e organizar seu próprio trabalho?
  6. Os funcionários entendem a importância do seu trabalho?
  7. Os temas saúde e doença mental fazem parte de conversas sinceras e frequentes?
  8. A empresa oferece formalmente oportunidades para que os líderes e funcionários conheçam e possam tirar dúvidas sobre as doenças mentais?

Um número maior de respostas positivas às perguntas acima, pode ser indicativo de menor risco psicológico para os funcionários. Por outro lado, a lição de casa está por fazer caso as respostas negativas tenham prevalecido.

Tratar e encaminhar essa questão de forma positiva e preventiva é bom para os funcionários e também para a empresa que terá, redução no absenteísmo, aumento da produtividade, redução da sinistralidade no plano de saúde, além de construir um ambiente de trabalho melhor para todos.

Yara Leal

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