Se você é líder ou profissional de RH – não-Psicólogo – é importante ter conhecimentos básicos sobre os sintomas das doenças psiquiátricas. Atualmente o ambiente dentro das empresas está cada vez mais complexo e desafiador, provocando estresse e podendo contribuir para início de surtos de sintomas de doenças mentais.
Acredita-se que uma parcela considerável dos adultos já sofreu com um sintoma de doença mental, moderado ou grave em algum momento da vida. Os estudos indicam que os distúrbios de personalidade são causados pela interação de fatores ambientais e hereditários. Apesar de termos avançado na compreensão das doenças mentais, ainda existe preconceito e estigma rondando esse assunto. As doenças psiquiátricas podem não ser levadas a sério uma vez que não são tão palpáveis como um osso quebrado e muitas vezes podem ser consideradas como “frescura” ou falta de vontade. Existe uma linha divisória tênue entre uma pessoa que manifeste um ou outro traço de um dos transtornos e a que realmente apresenta um transtorno de personalidade. Para a clarificação sobre o quadro, um Psiquiatra deve ser envolvido para analisar os sintomas que precisam comprometer seriamente as atividades diárias e a capacidade de trabalhar da pessoa, para então chegar a um diagnóstico conclusivo.
TRANSTORNOS DE PERSONALIDADE
Em geral alguns comportamentos são apresentados nos transtornos de personalidade, são eles: instabilidade emocional, agressividade, desconfiança, irracionalidade e rigidez. Esses comportamentos precisam ser frequentes, mostrando um padrão desadaptado de funcionamento.
O DSM-5 – Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, divide 10 transtornos em 3 grupos, conforme semelhanças descritas:
GRUPO A
Paranoide: desconfiança de que os outros estão mal-intencionados. Mania de perseguição. Suspeitas sem justificativas.
Esquizoide: distanciamento das relações sociais, não estabelece vínculos, embotamento afetivo. Não deseja e não gosta de estabelecer relacionamentos íntimos.
Esquizotípica: ideias e comportamentos excêntricos, distorções cognitivas e perceptivas e déficits sociais e interpessoais.
GRUPO B
Antissocial: incapacidade de adequar-se as normas sociais, desrespeito aos direitos alheios, ausência de remorso.
Histriônico: alto grau de emotividade e busca por atenção. Utilização da aparência física para chamar a atenção, dramaticidade, expressão exagerada das emoções.
Narcisista: Necessidade de ser admirado. Sentimento de grandiosidade sobre sua própria importância. Acredita ser especial e único.
Borderline: Medo de abandono. Instabilidade dos relacionamentos, da autoimagem e dos afetos. Impulsividade, sentimento de vazio e comportamento ou ameaças suicidas.
GRUPO C
Obsessivo-compulsiva: preocupação com organização, perfeccionismo, preocupação com detalhes, pouca flexibilidade. Relutância em delegar tarefas, mesquinhez financeira.
Esquiva: Inibição social, sentimento de inadequação, sensível a críticas, reluta a envolver-se em relacionamentos.
Dependente: necessidade ampla e excessiva de ser cuidado, comportamento submisso, temores de separação. Dificuldade de manifestar discordância, por medo de perder aprovação.
O tratamento dos transtornos de personalidade é basicamente por meio de terapia individual, em grupo ou familiar e medicação que visa diminuição dos sintomas. Os tratamentos só se tornam eficazes quando o indivíduo percebe que seus problemas são internos e não causados externamente.
TRANSTORNOS DE ANSIEDADE
Provavelmente a maior incidência dentro das organizações é dos transtornos de ansiedade, sendo importante gestores e profissionais de RH conhecerem as características para poder apoiar e encaminhar.
- Síndrome do Pânico – taques de pânico com intensa sensação de medo e desconforto. Período de angústia e ansiedade exageradas, acompanhados por sintomas físicos e emocionais.
- Transtorno de ansiedade generalizada – ansiedade em vários aspectos da vida, as preocupações são em geral desproporcionais ao que as situações realmente exigem.
- Fobias – envolvem uma ansiedade persistente, elevada, irreal e medo de certas situações, circunstâncias ou objetos específicos. Ex. medo de andar de metrô, medo de ambientes fechados.
- Transtorno Obsessivo-compulsivo (TOC) – obsessões são caracterizadas por pensamentos, impulsos ou imagens recorrentes e persistentes que causam ansiedade e sofrimento. A compulsão envolve comportamentos ou atos mentais repetitivos, sendo uma resposta que indivíduo sente que precisa realizar em resposta a uma obsessão. Ex. Obsessão: Alguém pode entrar na minha casa a noite, pensar nisso de forma persistente. Compulsão: verificar várias vezes se a porta da casa está trancada e não conseguir dormir, por causa disso.
- Transtorno de Estresse Pós-traumático – Após exposição a um evento traumático, desencadeamento de medo intenso e impotência. Tendência a reviver o evento traumático mentalmente, ou por meio de sonhos que causam sofrimento psicológico intenso acompanhado de reações fisiológicas.
O distúrbio especificamente relacionado ao trabalho
A Síndrome de Burnout caracteriza-se por um estado físico e emocional de cansaço extremo, chegando à exaustão como consequência do excesso de responsabilidade e pressão no trabalho. Muita competitividade e situações estremas de tomada de decisão, geram nervosismo, esgotamento, sofrimentos psicológicos e problemas físicos. Nesse caso, o tratamento envolve além da terapia e em alguns casos intervenção medicamentosa, a mudança nas condições de trabalho e estilos de vida.
Encaminhamento
Dentro das empresas, qualquer caso com suspeita de transtorno de personalidade ou de ansiedade deve ser encaminhado para o atendimento de um Psicologo ou Psiquiatra que poderá clarificar o diagnóstico por meio de processo apurado e orientação para o tratamento. É bom lembrar que todas as pessoas precisam de um ambiente saudável, onde possam ser elas mesmas e a área de RH é a responsável por monitorar o clima interno e contribuir para que os funcionários tenham a melhor condição de trabalho, pois isso contribui para que a empresa alcance os resultados de maneira sustentável. Falar de doença mental e abrir espaço para que isso possa ser discutido, favorecendo a superação dos preconceitos e facilitando a adaptação de funcionários depois do diagnóstico e início do tratamento, assim que e se o retorno ao trabalho for possível.